quinta-feira, 15 de junho de 2017

tristemente ficar com 00

lá vem eu, que transformo até a dor de sair do netflix pra votar, em crônica:

chego com a maior cara de abuso que sei fazer, e entro na fila. eram só duas gêmeas na minha frente. a Yasmin, prima de 10 anos que mora comigo, fez questão de me acompanhar, o que me obrigou a voltar lá pra 2006, quando eu fui por debaixo da saia da minha mãe apertar 13. parece que as crianças são as únicas a terem fé na votação de hoje.

daí na seção ao lado tinha um machista, tinha um machista na seção ao lado. ele tinha seus 50 anos e um dente da frente a menos. aparentava já ter escolhido entre 12 e 22 e demonstrava total... falta do que fazer, ao perguntar sobre a opção dos outros eleitores.

se a Yasmin fosse o Brasil, ele teria olhado pra ela do Oiapoque ao Chuí. meu nojo fez eu passá-la para trás de mim, e logo chegou a vez do meu contato com a urna.

a fiscal olhou umas três vezes pra minha foto de identidade, em seguida rindo pra mim como se dissesse: "é tu mermo?". fez então um sinal para que eu entrasse.

e estava eu, ali, preferindo usar meu dedo pra "limpar o salão" do nariz a ter que teclar qualquer conjunto de dois números. infelizmente tive que fingir acreditar na inesquecível democracia ao estar ali, obrigado. devo ter passado cinco segundos em pé, mas juro que me ocorreram três situações.
eu pensei em votar 50, declarando simbolicamente - mesmo que inutilmente, meu apoio a Freixo. pensei em votar 12, querendo estar morta mas, como fiz em 2014, escolher o quadro menos pior. por fim, pensei (e o fiz) em tristemente ficar com o 00. digo tristemente, porque ninguém sabe o quanto eu queria ter uma camisa, um adesivo, um favorito.

enfim, é como disse meu professor na aula de Teorias da Comunicação dessa semana, "na política, nada se faz com o coração". nunca me senti tão contemplado. e triste.

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