Veio em consequência
não sei de quê. Foi aumentando e se espalhando. A lá uma
metástase. Me tirou o sono, a vontade de correr. Interrompeu tantos
sorrisos, tantas vivências. Nasceu nem sei quando. E fui amamentando
ao ver o seu desenvolvimento. Cresceu e me surpreendeu. Percebi, é
claro, que tratava-se de mais uma procura por feridas. Sou
especialista. Era então, de uma imensidade que só se podia
suportar, entender era sonho. Quase explode dentro de mim. O cheiro
de um alguém soava como gasolina, no fogo que em meu interior se
espalhava. Abarrotava-se a ponto de ser impossível um ser humano
tão sensível quanto eu, aguentar. Como previsto, não suportei.
Disse ao alguém sobre tudo. O último alguém da lista. Não que
existisse uma lista. Nem a probabilidade de confiar o segredo. Por
que jogar no ventilador o que, há alguns meses, mesmo o espelho
desconhecia? Nem sei. Mas de uma hora pra outra senti a necessidade.
Dessas que batem e você sabe que vai dar merda. E deu. Mas pelo
menos, agora não resta a menor dúvida. Entre declarações de amor;
“trocaria qualquer desses por você”; “vivo pelo teu sorriso”;
“que não mude nada entre nós”, o mais (ou único) ouvido foi o
pedido derradeiro. Ouviu sim. E fez o contrário. Me mostrou uma
indiferença tremenda. Eu, feliz por não ter que dividir aquilo só
comigo. Fudido por não ter deixado só entre mim e eu. Disse. Falei
mesmo. Entreguei. Soltei. Abri. Dividi. Compartilhei. Foi junto com a
história, um estoque de lágrimas que lavaram a alma. Dessas, do
outro lado da cidade o alguém não teve conhecimento. Foi o que
faltou pra me levar a sério, ou me ceder de uma vez o atestado de
inconsequente. Mas deixei uma delas cair em plena carta de amor.
Manchei a esperança de tristeza. Um sinal? Talvez. Mas não sairia
dessa puta situação se não fossem as palavras. Só resta saber se
estas me salvaram, ou me deixaram fadado a ser alvo de medo desse
alguém. O medo de ser amado, cuidado, querido. Basta dizer que não
compreendo? Não muda nada, a aceitação vai ter que vir. De certa
forma paguei pra ver e estou sentindo. Na pele. Queimando e deixando
em carne viva aquelas feridas que achei, e magoei. Caju, meu querido
caju, me convenceu a ganhar ou perder sem engano. Acredito que perdi.
Azar no jogo do amor. Sorte em não ter mais engano. E o sono
voltou...