domingo, 5 de abril de 2015

Ex

Acreditava que a amizade poderia, e como, começar como um namoro: "Quer ser meu amigo?". Num pedido a alguém que satisfizesse  por completo suas necessidades intelectuais. Um convite, às vezes no escuro, a quem, mesmo tendo outros mil amigos, estivesse disposto a se abrir para mais mil. Juntos viveriam grandes momentos, compartilhariam boas histórias e lugares, chorariam um a tristeza do outro. Mas principalmente, sorririam o quanto pudessem, seriam dois. Por quanto tempo? Talvez uma semana, quem sabe um ano ou vinte. Um "sim" seria o passaporte para a belíssima parceria. E após aquele tempo de flores, quando a desilusão pulasse a janela, as piadas já não fizessem mais sentidos, e os tempos de "nunca pensei" chegassem, só um fim seria solução. Dar vida nova à relação para quê? Tendo tantas outras batendo na porta, tendo a oportunidade de salvar a pureza ainda pouco existente? Fotos manteriam as boas lembranças, cartas no baú carregariam a letra do ex-amigo.
Acreditar, acreditava, mas nada disso punha em prática.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

reduzir NÃO É solucionar

Vocês que se dizem a favor da redução da maioridade penal devem saber em quais argumentos estão embasados, são alguns deles:
1. Há trechos bíblicos sustentando alguns parágrafos do projeto, declarando o caráter arcaico de quem acha que ainda vivemos na idade antiga - já que se referem ao VELHO (velho) [velho] {velho} testamento; 
2. Para os defensores, já que uma criança tem o tirocínio de decidir trocar de sexo, não faz sentido a mesma ser isenta de atos criminais, ou seja, tudo o que o conservadorismo teme vira combustível - como a transfobia, e isso é que não tem nexo;
3. Para quem quer a juventude vendo o sol nascer quadrado, a mídia mostra que a maioria dos crimes atualmente é cometida por menores. Só que essa realidade só eles veem, já que a reproduzem sem nenhum número;
4. Os princípios que norteiam o protótipo são de ódio e aversão aos menores que, eu não sei se vocês sabem, não escolheram essa vida. Um pouco de história nunca matou ninguém. Esse assunto é complexo e não deve ser tratado de maneira diferente;
5. Parece que é prazeroso detestar a galera dos Direitos Humanos, e o "coitadismo" propagado por eles só serve mesmo é para passar a mão na cabeça de "delinquente". Bom, esse quinto item eu nem vou comentar;
6. 92,7% da população é a favor da redução, isso baseado em pesquisas para não se colocar a mão no fogo. E mesmo que fossem verídicas, até parece que o brasileiro é o nativo mais instruído da galáxia;
7. "Isso é porque não foi com você!" não existe. Quanta gente passou pelo que passou e nem assim se viu automaticamente a favor, ou seja, isso não é uma regra, não é universal;

Se quiserem sair um pouco da caverna, e sem panelas de rotas desviadas nas mãos, eis alguns dos meus contra-argumentos:
1. Caso a vitória do anacronismo vença, o ciclo não vai terminar. Não tão distante e os líderes do projeto vão "se dar conta" de que com 14 anos, já se pode muito bem ser castigado como um maior. Isso só escancara que, daqui a alguns aninhos, se o filho chutar a barriga da mãe vai ser punido;
2. O crime NÃO VAI ACABAR, pois esta equação não é diretamente proporcional: reduzindo a idade penal não se reduzirá os índices de violência. Não sou eu quem digo, mas países como Alemanha e Espanha até voltaram atrás na decisão, agora, avalie um país de dimensão e população maiores que esses dois juntos;
3. Hoje, quem tem entre 16 e 18 anos age como um canal da violência nas mãos dos grandes criminosos que fazem uso da lei a seu favor - e jamais o contrário. Se essa medida for implantada, jovens ainda mais novos manterão esse canal. Percebe-se que isso é pior, não é óbvio?;
4. A injustiça é a mãe de todos esses males, e alegar isso não é uma forma de justificar os delitos. Mas existe uma coisa chamada "sonhos", presente em toda a nossa juventude, só que (muitas vezes) roubados pelo preconceito, pela desigualdade, pela fome, pela falta de educação, de qualidade de vida e de oportunidades. Repito que o tema é complexo e exige uma solução que não surge assim, de uma idade pra outra;
5. O crime, pegando carona no último item, serve como saída de emergência para tantos problemas, ele alicia jovens que, muitas vezes só querem ter o que outros têm com tanta facilidade. É claro que isso tá errado, mas se nós não vemos o mundo como esses meninxs veem, se não passamos pelo que eles passam e se, principalmente, deixamos o caos na mão dos engravatados, não é julgando que vamos ajudá-los a enxergar outros caminhos; 
6. É preciso abrir os olhos para ver de quem vem o projeto e para quem ele vai servir. Por favor entendam que o filhinho de mamãe que atropela alguém não vai pagar do mesmo jeito que o batedor de carteira mirim. E essa é a mesma lógica da política anti-drogas, funciona para quem?; 
7. Os apoiadores da ideia acham coerente falar de trocentos casos que envolvem menores, mas falar de quantos deles são vítimas da Polícia Militar despreparada ninguém quer. Existe uma inversão de prioridades ao se discutir certas realidades. E não, para a PM não faz diferença a idade do neguinho no alto do morro;
8. A educação, não menos importante, é um tópico gigante nesse debate. São gerenciamentos incompletos, estruturas precárias, professores mal remunerados em todos os sentidos. É tanto que o estudante de ensino médio se acha bom demais pra virar professor. Não valorizam nada que vem da escola, até para implantar biblioteca é preciso de lei. Não educaram, mas querem enquadrar;
9. Nosso sistema carcerário é um vexame. As cadeias brasileiras estão duplamente superfaturadas - são dois presos para cada vaga, além disso, funcionam como escolas de progredir no crime. Vão estranhar quando os jovens voltarem da formação de monstros pior do que entraram, é dar um tiro no pé e esperar até que a hemorragia seja fatal;

Não quero dizer o que é certo, o que é errado. Nem convencer ninguém (o que não seria mau). Menos ainda ser o advogado do diabo que vocês criaram. Se você tem a sua opinião e ela é "A" ou "B", que ótimo. Mas escrevo para quem não tem e não reflete sobre tal. É preciso discutir! 
Se me mandarem adotar um bandido, vai entrar por um ouvido e sair pelo mesmo, aí eu peço, encarecidamente, que usem o dinheiro do salário da Sheherazade para comprar bons livros e largarem a pobreza da falácia.