sábado, 13 de setembro de 2014

de biênio em biênio


De junho passado ninguém esquece. Nossas ruas foram empossadas, milhões tomaram coragem de gritar. Do lado de cá, os jovens falaram alto, escancararam o tamanho descontentamento com a política atual. Exigiram tudo o que tinham direito, mas em melhores condições. Não era só sobre R$0,20. A massa indignada mostrou a que veio. Do lado de lá, no conforto de seus escritórios a plenos 18°C, os detentores do poder, aliados de peso da mídia vergonhosamente manipuladora, se contentaram no trabalho covarde de nomenclatura das manifestações. Difundiu-se amplamente a ideia de que ali, só tinha baderneiros, inimigos da ordem, pregadores do terror. A população que diz amém aos editoriais de direita, compraram as simbologias. Passamos a ver a evasão nos manifestos. Até mesmo pais buscando filhos em meio a “tiros, porradas e bombas” com receio da violência, não daquela vinda da polícia (de pé para proteger a burguesia no conforto das suas propriedades privadas), que em atos devidamente coreografados, tentavam calar as milhões de vozes. A violência temida pelo pai, era a moral. “O que, afinal, procurava seu filho naquela baderna?”
O cenário mudou, os atores não. A menos de um mês, escolheremos aqueles candidatos que melhor venderem seu peixe – ou que fizerem isso “menos pior”. Excluindo-se alguns candidatos (que a gente mal vê no horário eleitoral e em debates), não são eles, agora, a badernar por esse país inteiro? Quem grita agora? Quem clama por atenção? Quem torna nossas ruas imundas com tanta divulgação supérflua? (essa última indagação, não é uma comparação com 2013). Ao chegar em casa e abrir os correiros, o que enche nossas mãos, a não ser papéis e números? O que mais nos polui sonoramente nesse período, a não ser os paredões de som propagando versões ridículas de músicas populares? O que mais nos seduz maliciosamente, a não ser as acusações baixas de candidato X a candidato Y? (Essa situação vai se abranger nos próximos dias). É só a mim que tudo isso chateia? Tudo bem, sendo assim, fica aqui o desabafo e o desejo: escolham bem, coloquem lá em cima o que mais nos representar, ou seja, pense no plural. Mas primeiro responda: “O que realmente queremos?”. E segundo, lembrem-se: Há mais alternativas a clamar por um voto que os entrevistados pelo jornal nacional.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Se é que dá pra resistir

Num dia desses que parecia apenas mais um, não esperava muito. Estava frio, e sentiu um arrepio repentino. Seguido de uma mãozinha no ombro e um "Não está atrasado?". O semblante mudou, era mesmo um trabalho árduo tentar convencer-se de que aquele era só mais um colega de campus. Pior ainda era convencer o outro (ou os outros). E dedicava boa parte do dia a esconder as feições excitadas, a substituí-las por outras mais comuns, que não chamassem tanto a atenção dos amigos, sempre tão atentos as relações alheias. Lembrou que tinha uma resposta pendente:
- Ainda tenho quinze minutos - afirmou sem consultar o relógio. Nem mesmo tinha um. 
- Eu diria que você tem quinze minutos - replicou o outro.
- Ora, faz-se um filho em menos tempo! 
Era apenas o início de mais um diálogo bobo e que não chegaria a lugar nenhum. Mas que, de uma certa forma, aumentaria a vontade incontrolável de dar/pedir/até mesmo roubar um abraço do outro. Percebia então que havia muito tempo não o faziam. Este seria um abraço que se recusaria a sair de sua mente. Ficaria ali, juntinho das melhores recordações de uma vida sem muitas emoções. Era como se as armazenasse em algum lugar, aquele lugar que se refugiava em todas as noites angustiantes. Enfim, o abraço não aconteceu.
Zilhões de coisas passavam por sua cabeça, e tinha a esperança de que uma delas servisse, coubesse no momento. Do turbilhão de pensamentos, saiu:
- Tens aulas de quem hoje? 
- De ninguém. Estamos liberados de uma delas para um seminário da próxima semana, e a outra, você sabe aquele professor que está hospitalizado... então, era dele - criou mais dúvidas o outro
Refletiu sobre o porquê de alguém aparecer na universidade quando não se tem o que fazer por lá. Atribuía a isso o fato de o outro amar aquele lugar. Não era como sua segunda casa, era mesmo a primeira.
- Se fosses um aluno exemplar ficaria em casa preparando o tal seminário, ou lendo o texto que, provavelmente, o enfermo recomendou - atacou conseguindo ser o mais irritante possível. E ao se entregar a um sorriso sem igual, o outro contra-atacou:
- Ha ha ha ha. Você não sabe de nada. Texto? Isso não me pertence mais.
Sentou-se no banco mais próximo à sua sala e esperaria dez, quinze minutos pela primeira aula. Já nem lembrava mais o que estudara, apreciando aquele olhar cativante do outro (que teimava segui-lo). Preocupava-se com a escâncara do sentimento. 
- Vou até a biblioteca me distrair um pouco. Tenha uma boa aula - disse o outro, não pegando no ar o convite desesperado para sentar-se ao seu lado. 
Achava, às vezes, que o outro lhe fugia das mãos, que preferia andar por aí, a procura de nada. Encontrou coragem em algum lugar e, por fim, alertou:
- Obrigado. Me procure ao fim desta aula. Quero te contar uma coisa.
Despediram friamente, como dois conhecidos (até parece que eram mais do que isso). Foi à aula. Não absolveu uma palavra sequer que o professor pronunciara. E durante todo o resto do martírio que era aquela disciplina, permanecera perguntando-se que merda havia feito. Talvez não quisesse outra vida...