Todos os dias ficamos mais
e mais esgotados de tantos artistas novos que nos são apresentados – ou
auto-apresentados – nessa era rápida. Hoje, com um passinho ou uma letra
colante, é possível alcançar milhões de visualizações em dois tempos. Uma
questão então surge: quanto tempo essas cyber celebridades podem durar? E
pior... quanto tempo ainda temos para respeitar artistas de verdade, que há
décadas nos contagiam? A internet, sem dúvidas, ajuda a grandes nomes da
música, pode ser encarada como mais um meio de divulgação do trabalho, fazendo
com que diariamente apareçam inúmeros fãs a mais. Porém, com essa explosão de
variedade, pode acontecer de esses fãs a mais se transformarem em fãs a menos.
Sim, pois nem todos os ‘seguidores’ ou ‘curtidores’ de um cantor/banda, são
totalmente verdadeiros. Quem garante que estes não migrarão para outra página,
de outro artista? Todo mundo conhece fulano que era viciado no trabalho de
sicrano, e agora não escuta nada que não seja de beltrano. O fato é que algumas
pessoas não param em um ídolo, e parecem macacos de galho em galho. Nem é
preciso conhecer esse tal fulano para perceber a migração. A mídia tem um papel
fundamental nesse processo. Para muitos, a própria é a culpada, pois cria um
mito, e na mesma rapidez o desfaz. Exemplos vivos: em meados de 80, a cultura
pop estava integralmente voltada para uma figura nada convencional nos atos,
looks e letras – Madonna; No final da década de 90, todas as atenções estavam
voltadas para as ‘princesinhas’ Britney Spears e Christina Aguilera; Atualmente,
o pop é praticamente, tudo que Lady Gaga faz. Se os fãs de um artista fossem
exatamente os mesmos até o fim (e mesmo depois dele), o último álbum de Michael
Jackson venderia as então 100 milhões de cópias da obra ‘Thriller’. Não vendeu.
Abusando do eufemismo: mas é preciso o ídolo ‘partir dessa para melhor’ para
que seu fã novamente volte a admirá-lo? Nunca entendi bem o porquê de tanto auê
quando certos nomes se vão. Muitos destes só têm um certo status porque se
foram. É realidade. Não darei aqui minha opinião, por ética. Mas existem.
‘Mesmo os grandes homens só
são verdadeiramente reconhecidos e homenageados depois de mortos. Por quê?
Porque os que elogiam precisam se sentir de algum modo superior ao elogiado,
precisam conceder’. A superioridade é a resposta para Otávio, personagem de
Clarice Lispector em seu primeiro romance ‘Perto Do Coração Selvagem’. Não
posso concordar com Otávio. Quem elogia nem sempre (ou quase nunca) se sente
superior. Muitas vezes são tratados como qualquer coisa pelos elogiados. Pelos
que não entendem que não estão em cima do palco por outro motivo que não seja
os fãs. Estes não venderiam discos, não sairiam em fabulosas turnês, não fariam
campanhas publicitárias milionárias simplesmente por não terem público. Agora,
se Otávio quis dizer que quem elogia se sente superior a um homem o qual não
admirava enquanto vivo, até que faz sentido. É uma idéia meio ‘sua obra não te
deu a eternidade, e eu ainda estou vivo!’
Precisamos preservar os poucos e bons que
temos hoje. E isso não significa desdenhar dos novos. Novo não é
necessariamente ruim. Muito cuidado para não adquirir um certo repúdio
automático ao que vem por aí. E mais cuidado ainda na tentativa de preservar o
que já tem seu tempo. Aliás, é isso: a música não tem tempo, não tem época. Até
tem, a época que nasceu, mas nasce para sempre, vai durar enquanto seres
humanos nascerem com um par de ouvidos. Porque ela só exige ouvidos, nada mais!
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