domingo, 29 de dezembro de 2013

Um trecho, uma reflexão

"Tais são as visões que incessantemente flutuam sobre, correm ao lado, postam-se diante da coisa real; muitas vezes dominando o viajante solitário e retirando-lhe o sentido da terra, o desejo do retorno e dando-lhe em troca uma paz geral, como se (assim pensa ele enquanto avança na trilha da floresta) toda essa febre de viver fosse a própria simplicidade; e miríades de coisas se fundissem numa coisa só; e essa figura deita de céu e ramagens tivesse se alçado do mar revolto (está velho, agora com mais de cinquenta) como uma forma sugada das ondas e levada ao alto e lá de cima vertesse com suas mãos magnificantes a compaixão, a compreensão, a absolvição. Assim, pensa ele, possa eu nunca voltar à luz da lâmpada; à sala de estar; possa eu nunca acabar meu livro; nunca esvaziar meu cachimbo; nunca tocar a campainha para Mrs. Turner vir limpar, e possa eu caminhar até aquela figura grandiosa, que num gesto brusco da cabeça me erguerá em suas faixas de luz e possa eu ser impelido num sopro para o nada com todo o resto."
Woolf, Virginia. Mrs. Dalloway. Porto Alegre: L&PM, 2012. p. 69.

Aquele livro encantador, cativante, sedutor. Sem um enredo dos maiores que pode-se ver, mas que nos convida a pensar, sob determinados pontos de vistas. Sobre personagens apaixonantes e seus respectivos modos de viver a vida. Leiam este livro!

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